martes, 25 de junio de 2013

... "LUZES em ALCAINS ...

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  Eduardo abriu uma cerveja e passou-a ao amigo que tinha a seu lado.

  --- Toma João.

  --- Obrigado … que bem que se esta aqui.

  --- Pois sim … desde que abriram a A23 esta estrada ficou muito mais tranquila.

 Sentaram-se nas cadeiras de praia que para o efeito tinham colocado nas traseiras da casa, junto da barbacoa.

  De quando em quando gostava de compartilhar com um ou outro casal amigo daquela paz.

  De dentro da casa chegavam vozes femininas … eram suas respectivas esposas que falavam animadamente.

  Tinham feito um churrasco e o jantar fora sublime …

  O verão ia forte, por isso, o ar fresco que soprava aquela hora da noite era muito bem vindo.

 

 

 

 

 

  --- Incrível como o céu está limpo.

  --- É possível ver uma infinidade de estrelas …

  --- … eh! … que raro … --- Eduardo levantou-se e apontou algo --- o que é aquilo?!

  No céu estrelado uma luz brilhava mais que qualquer outra estrela … e não cintilava …

  --- Será algum avião moderno.

  --- Pode ser … mas …

  Continuavam olhando … de repente, aquela luz ganhou vida … deslocou-se vertiginosamente a sua direita … era tão rápida que os dois homens tinham dificuldade em segui-la com o olhar …

  --- Maria … Luísa … venham cá … depressa …

 

 

 

 

 

  As duas mulheres, um pouco assustadas, saíram a casa correndo … também elas ficaram paradas, no exterior, olhando aqueles movimentos luminosos.

   --- Que é aquilo, João?

   --- Não sabemos …

  Uma das mulheres tirou do bolso das calças um telemóvel e marcou um numero …

   --- A quem chamas, querida?

  Mas Luísa não lhe respondeu. Alguém atendeu do outro lado.

   --- Olá sou eu. Onde estás? Ok. Quero que saias a varanda e olhas o céu na direcção da Póvoa Rio de Moinhos … apressa-te … que estás vendo ?... isso mesmo … igual ao que estamos vendo nós aqui … estamos aqui em Alcains na vivenda de uns amigos. … Obrigado … desculpa o incomodo … um beijo …

   --- Estava falando com Barbara que está com o noivo na esplanada do  Parque de Campismo … e está a ver o mesmo.

 

 

 

  Entretanto, no céu, o espectáculo continuava.

  Agora a luz estava mais perto e era muito maior. Também mudava de aspecto … por vezes parecia uma aranha com vários braços …

  Os movimentos eram extraordinários rápidos …

   --- Nenhum avião actual poderia fazer isto …

   --- Tens razão, Eduardo … espera vamos chamar os jornais?

   --- E os números?

  --- Tenho aqui o numero do “Reconquista” … mandarão alguém.

  Á segunda tentativa alguém respondeu do outro lado …

  Em poucos minutos descreveu o que continuavam a presenciar …

   --- Dizem que estarão aqui em meia hora …

  --- Isto é incrível … pena que não tenha aqui os binóculos que deixei no escritório.

  Sua mulher tomava-o pelo braço …

  --- Não me digas que tens medo, mulher …

  Ela não respondeu, mas sorriu e aninhou-se um pouco mais de encontro a ele.

  Já levavam 40 minutos e o concerto de luzes continuava.

  As luzes iam e vinham … num bailado descompassado …

  Cerca de uma hora depois chegaram o mais perto que tinham estado desde o inicio … mesmo por cima das suas cabeças … depois … no mais completo silencio, aceleraram em direcção da serra da Gardunha … e desapareceram …

  Tudo voltou ao normal …

 

 

 

 

 

  Deram-se conta que tinham permanecido de pé durante todo aquele tempo.

  --- Afinal … que foi tudo isto? --- João continuava olhando para cima … mas tudo voltara a normalidade.

  --- Nem ideia.

  --- É melhor ir por outra cerveja …

  --- Podes trazer para mim, por favor?

  --- Claro que sim.

  O som de uma campainha feriu a tranquilidade da noite.

  --- Alguém chama desde o portão.

  Eduardo levantou-se …

  --- Vou ver quem é.

  Voltou pouco depois com um casal jovem.

  --- Estes senhores são do Reconquista … Cristina Mota Saraiva e Nelson Mingacho.

  --- Olá. Muito boas noites.

  --- Já se acabou tudo.

  --- Não faz mal. Mas vocês vão contar-nos tudo, não é verdade?

  --- Claro que si … sentem-se, por favor.

  A jornalista abriu o seu bloco de apontamentos e começou a escrever … Alcains … Estrada Nacional nº 18 … 18 de Julho de 2010 … 22.40h … … ...

 

 

 

 

 

                    INVESTIGAÇÃO :



    

    A serra da Gardunha foi sempre cenário de         

     muitos avistamentos de Ovnis.

Este é, somente, um dos documentados, recolhidos pela imprensa local.

Para protecção da identidade dos verdadeiros protagonistas, os nomes dos intervenientes são ficticios, com excepção do nome do jornal “Reconquista”, que é a publicação mais antiga e Castelo Branco.

Os nomes dos jornalistas também são reais, mantive-os como homenagem ao seu trabalho ao longo dos ultimos 20 anos.

Deixo-vos o enlace que serviu de base para este meu trabalho …











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jueves, 30 de mayo de 2013

... A LENDA DA PONTE DO RIO OCRESA ...

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    José Horácio, José Leitão, como era conhecido em toda zona, olhava com ar desesperado o relógio de prata, herança do seu falecido pai, que trazia no bolso do casaco, preso com uma fina corrente, também de prata … que dia aquele … marcava as oito horas da noite.

 

 

 



  O apelido de Leitão também era herança … o seu pai era dono do pequeno bar restaurante que ele agora geria em Taberna Seca.

  Era o melhor de toda a aldeia … não só porque se comia melhor ali que em nenhum outro sitio … mas, principalmente, porque era o único sitio onde se podia comer em toda a aldeia.

  Nas traseiras, o seu pai criava sempre dois o três porcos que matava por inícios o outono … assim sempre tinha carne, todo o ano, e eram famosos os seus enchidos e presuntos … começaram então a chamar-lhe Tó Leitão … José seu filho … ficou-lhe como o apelido …

  Voltou a olhar o relógio … 8.15h … suspirou …

 

 

 

 

  Aquele dia começara antes das seis horas, o sol ainda estava preguiçoso. Havia que deixar comida aos animais. Mantinha a tradição do seu pai, mas tinha-lhe somado algo seu … agora também criava galinhas e coelhos … assim tinha mais para oferecer no seu restaurante.

  Cerca das sete e meia já estava na paragem do autocarro, o único que passava para Sarzedas.

  Esse era o seu objectivo de hoje. Tinha que deslocar-se aldeia grande para ver o seu cunhado que havia caído e partido uma perna.

  A ideia era tomar o autocarro da manhã e voltar com o das 8h da noite.

 

 

 

 

 

  Como estava previsto, almoçou com a sua irmã e o marido.

  Pela tarde ajudou um pouco no amanho do terreno que tinham e que agora, com o acidente, estava um pouco descuidado … a sua irmã não podia fazer tudo.

  Mas o dia se lhe fez longo.

  Perdeu-se do tempo e quando olhou o relógio 8h da noite.

  Levou 10 minutos a chegar à paragem … e ali estava … esperando …

  8.30h … já havia passado … seguramente …

  Um outro homem passou perto:

  --- Desculpe … sabe a que horas passa o autocarro para a Taberna Seca?

  --- Hoje? … Já não há … o ultimo passou a um quarto para as oito …

  --- Obrigado … --- era o que temia … não tinha transporte para voltar a casa.

  Pouco a pouco foi-se consciencializando que só lhe restava a possibilidade de ir a pé … eram cerca de 10 km … mas não tinha outra alternativa … iria a pé …

  O pior é que começava a cair a noite …

 

 

 

 

 

  Pôs-se a caminho …

  Os primeiros quilómetros passaram com relativa rapidez … era fácil ... só tinha que seguir a estrada nova.

  Até ao rio Ocresa era sempre a descer … já lhe faltariam os últimos quatro quilómetros que eram simplesmente a pique.

  José Leitão seguia caminhando a passada constante … a descida levava-o ao rio … já sentia o ar más fresco.

 Sentia-se só com a natureza … e a verdade é que gostava daquela sensação.

 

 

 

 

 

 

  Ao aproximar-se da ponte algo chamou a sua atenção … mais ou menos a meio um vulto estava do lado contrario ao seu … parecia um homem …

  A cada passo mais facilmente distinguia, na noite escura, aquela figura …

 Agora não tinha duvidas … era um homem … quase podia jurar que era um soldado, muito embora a farda fosse estranha …

  A poucos metros, e perante a completa imobilidade o individuo José tomou a iniciativa.

  --- Boas noites.

 Do outro lado da ponte o homem disse algo ininteligível … José não conseguiu compreender … e, sem parar o passo :

  --- Desculpe … que disse?!

  --- Quem está esta'... quem vai vai … aqui não se saúdam as pessoas que morreram há muitos anos, como eu …

  José seguia caminhando e levou uns segundos a digerir o que, agora, tinha ouvido perfeitamente.

  Parou, intrigado e virou-se para encarar o personagem … … mas não havia ninguém … impossível … como podia ter desaparecido assim tão rápido? Não teve tempo de chegar ao outro lado da ponte … e não passou por ele …

 

 

 

 

 

  Optou por seguir caminho … levou mais de uma hora a chegar a casa …

  Finalmente, depois daquele dia tão comprido … estava na sua cama …

  Mas, apesar do cansaço, não foi fácil consolidar o sono … a imagem daquele homem, a meio da ponte sobre o rio Ocresa, não lhe saia da cabeça.





  Esta e outras histórias idênticas, se contam em toda a zona de Castelo Branco.

  Diz-se que nos finais da ultima invasão francesa, depois da inesperada derrota, o exercito gaulês fugiu por essa região, a caminho de Espanha e daí para França.

  A ponte sobre o rio Ocresa tornou-se estreita para carros e homens fugindo de uma maneira um pouco desordenada.

  Num movimento casual um dos soldados franceses caiu ao rio morrendo afogado.

  Não havia tempo para resgata-lo e aí ficou.

  Diz-se que, pela noite, o soldado sobe até a ponte e ali fica, controlando as poucas pessoas que passam a essas horas.

  A sua aparência está um pouco desfigurada e, as roupas quase destruídas identificam a custo as de um soldado francês.

  Chamam-lhe … o soldado da ponte da Ocresa.

 

 

 

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domingo, 12 de mayo de 2013

... A ESPOSA DO REI WUAMBA ... ( final )

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  Chamou a sua aia de confiança.

   --- Bruneida … sois minha amiga … mais do que minha aia … verdade?

   --- Sabeis que sim, senhora … nos conhecemos desde pequenas … brincamos juntas … e vos acompanhei sempre mesmo quando vos casastes.

  --- Verdade que sim … amiga minha … lembro-me que chorei muito no teu ombro quando o meu pai fechou o contrato do meu casamento com Wuamba.

   --- Lembro-me perfeitamente.

   --- Por isso peço a vossa ajuda neste momento.

   --- Sei o que quereis.

   --- Sabes?

  --- Sim … conheço-vos há tantos anos … quereis encontrar-vos com o mouro.

  --- Sim! Me acompanhais?

  --- Sabeis que sim.

   --- Podeis conseguir que abram as portas sem que se dêem conta que sou eu que saio?

   --- Bem. Conheço o chefe dos sentinelas. Não haverá problema.

   Coberta com um dos lenços de aia, Amélia e Bruneida não tiveram problemas em sair. No rio, perto da margem, estava uma pequena barcaça.

   --- Vos espero aqui, senhora.

   Amélia entrou pela agua e aproximou-se do barco … o homem ajudou-a a subir.

   --- Obrigado por vir.

   --- Não devia estar aqui … sabeis isso.

   --- Talvez … mas me alegro muito que estejais agora mesmo comigo.

   --- Não sei nem por que vim.

   --- No importa … estais aqui … nada mais importa.

   --- Bem!

   --- Posso perguntar-vos algo?

   --- Sim.

   --- Conheço Wuamba … tem já alguma idade … vós sois jovem … bela … como vos casastes com ele?

   --- Uma velha historia. Um contrato do meu pai com o meu marido … não tive nada que ver com esse tema.

  --- És demasiado jovem e demasiado bela … necessitais alguém que possa amar-vos plenamente …

   --- Perdoa … devo regressar … se me descobrem … se nos descobrem … estamos perdidos …

   --- Está bem … posso perguntar-vos quando voltareis aqui?

   --- Não sei … talvez amanhã.

   --- Vos esperarei aqui …

   --- Cuidado … podem ver-vos …

   --- Estarei atento.

   Rapidamente Amélia saiu do pequeno barco e se reuniu com Bruneida que ficara na margem.

   Regressaram ao castelo sem falar.

   Durante toda a semana Amélia encontrou-se com Mutsafari todas as noites … era encantador … educado … muito diferente da ideia que lhe tinham dado dos mouros …

   A ultima noite, antes do previsível regresso de Wuamba, despediram-se e o rei mouro deixou-lhe umas palavras:

    --- Construirei um túnel, atravessarei o rio por debaixo, chegarei até ao castelo e vos trarei comigo. Basta para isso que me digais que o quereis.

   Amélia ficou sem palavras … olhou aquele homem belo que a luz da lua iluminava e sentiu o que nunca sentira antes no seu peito.

   --- Sim. --- respondera-lhe antes de voltar.

   Então ele pegou-lhe na mão e a levou aos seus lábios.

 

 


   Com o regresso do rei , tudo voltou ao ritmo normal de vida.

   Durante os primeiros dias Amélia evitou baixar ao rio …

   Passaram meses sem ter qualquer noticia ou contacto com Mutsafari.

   Uma manhã, Wuamba, entrou pelo salão onde se encontrava Amélia.

   --- Tenho que falar-vos.

  Amélia fez sinal a Bruneida para que se retirasse.

   Rapidamente ficaram sós.

   --- Dizei-me senhor meu rei.

  --- Os soldados descobriram um túnel muito perto do rio … parece vir do lado mouro … por acaso não sabeis nada do assunto?

   --- Eu?!!! De um túnel!?!!?

   --- Vamos … Amélia … --- raramente a tratava pelo seu nome … --- por alguma razão sou rei … sei tudo o que se passa no meu reino … esteja ou não presente.

   --- Não sei a que vos referis …

   --- Pois ... que sei que, praticamente todos as noites em minha ausência, vós saisteis do castelo.

   Amélia estava gelada.

  --- Por isso pergunto de novo … sabeis algo sobre esse túnel?

   --- Não --- a voz tremia-lhe.

   --- Penso que a ideia era chegar ao castelo … algum erro de calculo levou a que terminasse muito longe de isso. Devo informar-vos que quando o descobriram o túnel saiam dele dois mouros que foram mortos imediatamente no local.

   Amélia levantou-se de um salto … movimento que não passou desapercebido a Wuamba.

   --- Tranquila … nenhum dos dois era Mutsafari.

   Amélia deixou-se cair na cadeira de madeira.

   --- Falamos claro?

   --- Sim.

  --- Vos encontrastes com ele em minha ausência?

   --- Sim.

   --- Em terra?

   --- Não … num barco.

   --- Bem! Não faltou ao acordo que temos.

   Olhava-a intensamente … Amélia estava cada vez mais nervosa ...

   --- O vosso coração bate por ele?

   Amélia ficou olhando o vazio … sabia que a sua sorte estava definida … a sua vida estava por pouco.

   --- Responde livremente … não vos condenarei … sei perfeitamente a diferença de anos que temos, vós e eu … sei que não posso dar-te tudo o que necessitas … por isso responde com verdade … amas-o?

   --- Sim.

   --- Obrigado pela franqueza.

   Dando meia volta, Wuamba retirou-se. Amélia não aguentou mais os seus nervos e caiu em pranto a que veio Bruneida tentar aliviar.

  Não voltaram a tocar no tema, e, aparentemente, a sua vida seguiu normal.

 

 

 


  Amélia não voltou a rio … não que lhe o proibisse o rei … mas não queria arriscar.

   Uma tarde, Bruneida entrou correndo ….

   --- Que te passa?

   --- Senhora … senhora … está aqui … está aqui …

  --- Tranquila Bruneida … que passa ? Quem está aqui?

   --- Mutsafari … o rei mouro … está no salão principal … esta falando com o nosso rei …

   Amélia não sabia que pensar …

   --- E não é tudo, senhora.

   --- Há mais novidades ainda?

  --- Sim … o rei Wuamba requer a vossa presença de imediato no salão.

   Amélia ficou um pouco confundida. Algo se estava passando … já saberia qual o plano do seu marido.

   Ao entrar , cruzou imediatamente o olhar com Mutsafari.

   Wuamba abriu os braços.

   --- Ah! Estais aí senhora. Aproximai-vos.

  Educadamente o mouro levantou-se perante a sua presença.

   --- Já conheceis o rei Mutsafari … como penso que temos um assunto que interessa a todos mandei chamá-lo, e ele, muito amavelmente, acedeu a vir até aqui.

   O mouro fez-lhe uma vénia.

   Amélia não conseguiu articular palavra.

  --- Vou ser muito franco com os dois. O rei, nosso vizinho comunicou-me o seu grande interesse por vós. Por outro lado o vosso interesse por ele já o conheço … e eu não vou meter-me entre os dois.

   Fez-se silencio.

   --- Por isso decidi que se vós quereis, senhora, vos regalo a Mutsafari.

   Amélia olhou o rei mouro sem compreender muito bem que se estava a passar …

   --- Permitis que fique com ele?

   --- Assim é.

   --- Sem nada mais.

   --- Sem mais nada … não sou rancoroso …

   --- Quando poderei vir a buscar-la --- a voz de Mutsafari parecia calma.

   --- Dentro de duas semanas, por ocasião da festa do solesticio … esperai no rio, onde vos encontrastes na minha ausência … aí a mandarei quando o sol cruze o meio dia.

   Com uma vénia o rei mouro dirigiu-se à porta e acompanhado por quatro dos seus homens, desapareceu pelo corredor.

   Amélia ficou estática … olhando Wuamba …

   --- Pareceis surpreendida, senhora.

   --- Completamente …

   --- Para que não se diga que Wuamba não tem coração.

  Os dias arrastaram-se penosamente para Amélia … a emoção apoderava-se cada vez mais dela … os nervos não lhe permitiam parar nem um segundo.

   --- Amanhã é o grande dia, senhora.

   --- Ai! Bruneida … que emoção …

   --- Terei saudades vossas … senhora …

   --- Que dizes? Tu irás comigo.

   --- Eu?!

   --- Sim, Bruneida … és a minha aia de confiança … és minha amiga … não abdico da tua companhia … nem dos teus serviços …

   As lágrimas apoderaram-se da aia e as duas acabaram abraçadas.

 

 

 

 

   Finalmente chegou o dia aprazado …

  O castelo estava engalanado e podia-se respirar o espírito de festa.

   Com um dos seus mais belos vestidos, Amélia entrou no salão onde a esperava Wuamba.

   --- Estais bela, senhora.

   --- Obrigado.

   --- Estais feliz?

   --- Sim.

   --- Acompanhai-me.

  Esticou-lhe o braço e Amélia, encantada, tomou-lhe a mão.

   Saíram do palácio e caminharam por entre a gente.

   O sol estava perfeitamente a pique … era meio dia.

   --- Baixaremos caminhando, meu rei?

   --- Não.

  Assim que passaram o grande portão o rei Wuamba tirou o braço e fez um movimento com a mão.

   Imediatamente dois soldados se colocaram um a cada lado de Amélia.

   --- Que passa, meu rei?

   --- Deveis acompanhar-los … eles te levarão a Mutsafari.

   O seu tom era agora mais sério.

  Os soldados levaram-na até a um recanto. Aí encostada à muralha estava uma grande roda de pedra ... pertencia ao moinho.

   --- Que está passando?

   --- Perdoe senhora … recebemos ordens.

   Segurando-a com os braços abertos Amélia foi amarrada à roda perante os seus gritos de protesto.

   --- Majestade, já está.

   --- Muito bem … então que ela não falte ao seu encontro.

   Quatro homens levaram a roda até ao inicio da ladeira e com um movimento coordenado lançaram-na pela encosta abaixo.

   Os gritos de Amélia eram abafados pelo ruído da roda de pedra, rolando em direcção há comitiva de recepção do rei mouro, que a esperava no rio.

   A poucos metros de Mutsafari, Amélia já não gritava. A roda entrou pelo rio imobilizando-se em poucos metros. Os homens do rei mouro libertaram-na de imediato … mas estava morta … destroçada … perante o olhar desolado de todos os que a esperavam.

   Mutsafari, com os olhos vidrados olhou furioso na direcção do castelo … conseguiu ouvir a voz de Wuamba gritando:

   --- Cumpri a minha parte do contrato. Disse que te a entregaria … só não disse como. 

 

 

 

 


    Alguns quilómetros depois de entrar em Portugal, o Rio Tejo depara-se com um importante acidente geológico: as Portas de Ródão.

   Neste local, o rio forma um estreitamento, dando lugar a uma impressionante garganta, a mais importante que o rio tem em território português.

   O principal interesse ornitológico deste local reside na sua colónia de abutres.

   No local ainda esta bem conservado, o castelo do rei Wuamba.

   Embora inicialmente não estivesse de acordo com a nomeação devido à sua avançada idade, Wamba foi forçado pela nobreza a aceitar o trono em 1 de Setembro do ano de 672 na localidade de Gertici ou Gérticos, depois chamada de Wamba em sua honra (Valladolid).

Foi o último rei que deu esplendor aos visigodos. Com a sua morte começou a decadência do império.

O rei Wamba retirou-se para o mosteiro de Monjes Negros de San Vicente em Pampliega, Burgos, actualmente desaparecido, e aí morreu no ano de 688.

 

 

 

 

   Esta lenda sobre a esposa de Wuamba, passou de geração em geração e ainda é contada por terras de Vila Velha de Ródão.

    Dizem, no local, que ainda hoje é bem visível o sitio por donde rolou a roda de pedra do moinho, com Amélia amarrada … por toda terra pisada pela grande roda, jamais nasceu qualquer vegetação … até hoje.

 

 

 

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