domingo, 24 de marzo de 2013

... OS HABITANTES DO SUBSOLO ...







                            CASTELO BRANCO







      --- Enfermeira Manuela, Laura já chegou.

      --- Obrigada.

     Manuela olhou o seu relogio de pulso … que dia duro … não parara um só momento … nem se deu conta de que eram 22 horas e que já terminara o seu turno de trabalho.

      A sua companheira Laura já estava preparada para a substituição.

     Abriu o seu armario pessoal e tirou un casaco comprido … vestiu-o mesmo por de cima da bata branca.

 

      Sentia uma verdadeira vocação pela sua profissão … era enfermeira, mas, não uma simples enfermeira … era parteira … ajudava a nascer os futuros homens e mulheres de amanhã.

 

 

       Ao sair respirou o ar frio da noite … siempre fazia vento na entrada do velho hospital … já se falava que muito em breve começariam as obras de um novo e grande edificio e que depois tudo e todos sairiam daí.

      Olhou à sua volta, a rua parecia deserta, a iluminação não era grande coisa … tinha o museo Proença Junior mesmo de frente.

 

 

 

 

      Vivia numa das ruas por detras da Sé Catedral … sempre regressava a casa a pé.

       Àquela hora o grande jardim estava fechado, mas tinha quase mais iluminação que a propria rua.

      Manuela não se considerava uma pessoa medrosa … mas o regresso do turno da noite … sempre lhe impunha respeito.

 

 

 

 

 

      De repente alguém a segurou por um braço.

      --- Não grite. Ninguem lhe vai fazer mal.

    Parou e deu meia volta. Era só uma pessoa … un homem … alto … delgado … vestia de uma maneira rara … mas estava muito escuro para ver detalhes …

     --- Sei que a senhora é parteira … a minha mulher esta de parto … necessito a sua ajuda.

      --- Porque não a leva ao hospital?

    --- Não posso … uma historia demasiado comprida … venha por favor … prometo pagar-lhe.

    Manuela estava paralizada com a surpresa … não sabia o que fazer …

    --- Por favor …

    --- Está bem. Ajudarei a sua mulher.

    --- Muito obrigado … venha …

 

 

 

 

      O homem meteu dois dedos na boca e assobiou. Da zona dos arcos apareceram dois homens, um deles parecia ter já alguns anos.

       --- Venham … ela vai ajudar-nos.

    Rapidamente juntaram-se a eles … Manuela seguia meio anestesiada pela situação.

        Inesperadamente tudo ficou ainda mais negro … um dos homens le meteu um saco de pano pela cabeça.

         --- Desculpe … é para segurança de todos.

      Sentiu que le faziam dar algunas voltas, como um peão … depois com um desconhecido de cada lado caminharam uns 15 minutos.

     Ouviu o som de um portão de ferro que se abria … começaram a descer umas escadas … muitas escadas … desceram quase mais tempo do que tinham caminhado.

    Depois tiraram-lhe o saco … pensou que a luz lhe iria ferir os olhos … mas não …

 

 

 


       Olhou à sua volta … o ambiente era diferente de tudo o que já tinha visto na sua vida.

      A rua era escura, diria que humida, estava quase deserta. Uma porta abriu-se mesmo por detras de donde se encontravam.

         --- Venham … já começaram as contracções …

        O seu sentido profisional ganhou vida.

        --- Venha enfermeira … aqui encontrará tudo o que necesita.

      Ao passar a porta tudo se transformou. Uma luz normal iluminava uma sala espaçosa. No meio uma cadeira especial para partos tinha uma mulher sentada.


 

 

 


       Tirou o casaco e avaliou a situação.

      --- Olá … tem calma … estou aqui … tudo vai ir muito bem … como te sentes?

    A mulher, jovem de uns trinta anos, tentou sorrir … mas pela sua cara se via que estava sofrendo.

     Passou os olhos pela sala, viu armarios e notou que estavam cheios de caixas de medicamentos …

     --- Necesito uma pessoa que me ajude … mulher de preferencia.

   Imediatamente se abriu uma porta e entrou uma mulher, mais jovem que a parturiente.

     Trazia uma bacia com agua fumegante.

     --- Diga-me tudo o que precisa, senhora … estou aqui para ajudar.

 

 



      Cerca de hora e meia depois tudo tinha terminado.

    Manuela tinha nas mãos uma menina recem-nascida de perfeita saude e, na sua frente, uma mãe totalmente exausta mas feliz.

      Alertados pelo choro da bébé, entraram alguns homens e mulheres.

      Manuela lavava as mãos e tirava a bata ensanguentada.

     --- No se preocupe pela bata, temos umas novas para si, penso que lhe serviram.

     --- Donde estamos?

     --- Por favor, não faça preguntas … melhor para todos.

   Um homem, com um fato antigo, aproximou-se com um grande sorriso …

     --- Não imagina como lhe estamos agradecidos. Temos uma parteira mas esta doente e tivemos que recorrer à senhora. Lamento se a assustamos.

     La alegria na sala era evidente.

 

 

 

 

       --- João. Leva a senhora à superficie.

      Manuela não compreendeu … superficie?!!!

     Um dos homens entregou-lhe uma pequena maleta. Abriu-a … dentro estavam umas tres batas brancas, um estetoscopio y caixas de medicamentos.

      --- Isto não é meu.

     --- Agora sim … é uma pequena lembrança pelo muito que ajudou a familia de João a crescer. O nosso muito obrigado.

    Acompanharam-na à saida. Então reparou que a rua era interior, por isso não sentia o vento … caminharam um par de metros …

    --- Enfermeira Manuela … peço perdão … mas terei que voltar a por-lhe o saco na cabeça.

     --- Está bem.

    A subida das compridas escadas pareceu-lhe interminavel.

 

 

 


 

      Mal se deu conta, Manuela entrava em casa.

      --- Querida … estava preocupado … estás bem?

      Manuela olhou o marido …

     --- Estou bem … já te conto …

          Olhou o relogio do quarto, marcava as duas horas da madrugada.

        Durante casi uma hora contou ao seu marido tudo o que lhe havia passado.

       Ele escutou-a com um ar entre a incredulidade e o espanto.

      No final, como ele se mantivesse silencioso ela colocou a maleta que lhe tinham oferecido em cima da cama.

      Foi tirando tudo o que havia dentro … os medicamentos … as batas … e, no fundo … uma pequena bolsa.

      Foi o seu marido quem a tirou e abriu. De dentro cairam umas 20 moedas amarelas … Manuela pegou numa e olhou-a atentamente …

      --- E que é isto? Não são escudos …

     --- Não … Manuela … isto são moedas de … ouro …

    --- Ouro?

   --- Sim … vinte moedas de ouro …

   Uma pequena fortuna que lhe tinham dado … os habitantes do subsolo …

 

 

 

 

        Dramatizei esta historia baseado num relato incrivel que recolhi no fascinante livro: Contos mitos e Lendas da Beira de Jose Carlos Duarte Moura, pag, 11.

        Se identifica no relato da enfermeira parteira, que o Hospital ainda funcionava nas dependencias do que é hoje a Santa Casa de Misericordia.

          A enfermeira e o seu marido, que não são identificados no relato, fizeram muitas tentativas de encontrar a entrada para esse mundo no subsolo … sempre sem resultados.

        Não é a única historia que em Castelo Branco fala de uma sociedade paralela … no entanto, a minha experiencia de investigador leva-me a concluir que existem este tipo de historias em quase todas as cidades em todo o mundo.

 

BLOG DE  jorge peres e carlos campos

 

 

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