miércoles, 13 de marzo de 2013

... A FILHA DE VIRIATO ...



               
                      SARZEDAS




O sol já começava a sua descida … o dia estava por horas. João olhou o terreno que tinha diante de si … se fustigasse um pouco mais o seu burro talvez conseguisse lavrar o que le faltava do olival do seu vizinho.

       Assim ganhava a vida, graças ao seu valente jumento … chamavam-no de quando em quando para lavrar ou tão simplesmente tirar àgua de um qualquier poço.

         Teria ainda cerca de uma hora de sol e havia que aproveita-la ao maximo.

 

 

 

 

 

 

     --- Vamos Tigre … dá-le forte … vamos companheiro.

    O animal pareceu escutar-lo … o seu passo tornou-se mais vigoroso … por detras, o seu dono guiava o arado.

    De repente … algo aconteceu que escapou totalmente à compreensão do bom homem … o arado estancou repentinamente …    Tigre lançou um gemido de intensa dor … João saiu disparado e voou um bom par de segundos para aterrar com grande aparato uns metros mais adiante.

      No ar ficou o silencio … e o pó.

 

 

 

 

      João levantou-se, sacudiu a camisa e as calças ... tentou compreender o que havia pasado.

           O arado havia ficado preso em algo que estava enterrado a cerca de um metro e meio da superficie.

          Ajoelhou, e com as mãos, tentou descobrir que havia ali.

     Primeiro pensou que fosse uma raiz de alguma oliveira que chegasse até ali … mas os seus dedos tocaram em algo duro … e frio … uma pedra … uma pedra grande …

       Foi buscar a enchada e começou a destapar todo o achado … um bloco de pedra de cerca de um metro de comprimento por trinta centimetros de largura … uma expessura de outros 30 centimetros …

       Não era uma pedra qualquier … via-se que estava tallada por mãos entendidas.

 

 

 

 

     Então se deu conta que não poderia retomar o seu trabalho.

    O incidente havia destruido uma das cordas que uniam o burro ao arado … tinha outra corda … mas estava em casa … por aquele dia se acabava o trabalho … teria que voltar amanhã.

     Aproveitou o que sobrou da corda rota y atou o melhor que pode a grande pedra … iria arrastá-la até ao centro da aldeia. Tinha que mostrar a todos o seu achado.

 

 

 

 

 

        O enorme ruido causado pelo arrastar da pedra chamou a atenção de todos. Parou na larga praça, mesmo ao lado do pelourinho.

     Todos quiseram ver o achado de João Leitão e este contava e repetia o incidente com o arado.

        --- Parece que encontraste algo grande, João.

      Fez silencio … por detras de todos D. Manuel Antonio da Silva, o paroco de Sarzedas tentava também ver o pedregulho.

      Todos se desviaram e o padre aproximou-se … passou as mãos pela pedra … passados alguns minutos ergueu-se …

    --- Esta pedra tem uma inscrições … João podes arrasta-la até as trazeiras de mi casa? Farei uma observação mais cuidada amanhã depois da missa matinal.

     A casa do paroco estava do outro lado da praça … em pouco tempo se arrastou a pedra até ao seu quintal.

 

 

 

 

      Fechou o portão de madeira detras de si. De casa trouxera uns pinceis … ajoelhou e com muita tranquilidade começou a limpar a pedra.

        A ideia roubara-lhe algum sono na ultima noite … chegou mesmo a aligeirar a primeira missa do dia para estar ali e começar aquela tarefa …

      Em pouco mais de meia hora as inscrições tornaram-se mais claras.

D. Manuel da Silva tirou do bolso da sotaina un pouco de papel grosseiro e um pedaço de carvão.

      Lentamente foi copiando as letras que pareciam ganhar vida:

   “ VERATIA VERATI FILIA REEDIFICAVIT HOC OPPIDVM SARZEDENSAE ET CONCESSIT EI PREVILEGIVM CIVITATIS “ 

       Era o que imaginava … latin … 

 

 

 

 

        Regressou a casa com o papel na mão e sentou-se na sua biblioteca, não sem antes escolher da grande vitrina um grosso livro.

          O seu latin estava um pouco oxidado … mas conseguiria traduzir a inscrição.

     Por debaixo da primeira linha escreveu palavra a palavra o resultado do seu exercicio:

       “VIRIATA, FILHA DE VIRIATO, REEDIFICOU ESTE CASTELO DE SARZEDAS E CONCEDEU-LHE O PREVILEGIO DE CIDADE”

       O padre levantou-se e ficou uns segundos olhando o papel com a tradução final … …

      A filha de Viriato … aquela pedra vinha mostrar que a antiguidade daquela aldeia estava muito mais alem do que se pensava e demonstrava a importancia que noutros tempos evidenciava … bom Deus … cidade …

       Havia que informar o presidente da junta …

      De uma gaveta tirou un caderno manuscrito … tinha que registar no seu diario … sentou-se de novo … testificou no papel todo o que havia pasado nas ultimas horas, a descoberta da inscrição e a sua tradução … no final da pagina … a data … 12 de Abril de 1808.

 

 

 

 

 

       A missa da tarde foi mais longa. Aproveitando a homilia o paroco fez um discurso caloroso, contando o conteudo da piedra e convencendo os ouvientes, o que foi facil, da importancia daquela aldeia perdida na serra.

       Sarzedas era a aldea mais importante do concelho. No final todo o povo esperou o padre no atrio da igreja e aplaudiu-o em ambiente de grande festa.

 



Dramatização – jorge peres





                                     INVESTIGAÇÃO:


        A descoberta daquela inscrição causou uma grande revolução nos meios governativos de Castelo Branco chegando a ser tema de ensino na escola primaria da aldeia.

     Toda a historia chegou a Lisboa e em 1910 o arqueologo Leite de Vasconcelos no seu livro “ O archeologo Portugues” expressou a sua discordancia quanto à traducção da referida inscrição.

        Não foi tomado muito em serio, Sarzedas era uma aldea do interior do país e como tal sem muito peso no governo central.

      Em 1930, historiadores e jornalistas como, Couceiro de Albuquerque, Francisco Duarte de Miranda ou Godofredo Alberto dos Santos Ferreira escreveram aceitando a tradução de D. Manuel da Silva.

       Foi necesario chegar a 1965 para que finalmente M.Lourdes Alberto, no seu livro “Emerita” apresentasse a tradução correcta da inscrição:

      “Aqui jaz Verácia, filha de Verácio, seu pai ( o mãe ) mandou colocar esta memoria.”

      Os conhecimentos linguisticos do paroco de 1808 não permitiram a traducção mais correcta.

       Os detalles, para os interessados,encontram-se no livro que serviu de base a este meu trabalho, o livro:

“A PROPOSITO DAS INSCRIÇÕES DE SARZEDAS E SERTÔ

de Jose D'Encarnação e Manuel Leitão da Faculdade de Letras e Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra, datado de 1982.

 

 

 

 

       A verdade é que Sarzedas teve o seu castelo, de que praticamente não há vestigios concretos.

       A aldeia de Sarzedas insere-se no concelho de Castelo Branco, região da Beira Interior Sul que compreende a parcela do território da Beira Baixa situada na “zona raiana”, tendo por limites a Norte a serra da Gardunha e a Sul o rio Tejo.

       Foi às autoridades do município da Covilhã que D. Sancho I solicitou para seu filho D. Gil Sanches a concessão de Sarzedas, na forma de herança.

      A régia pretensão foi atendida e em 1212 D. Gil Sanches e Paio Pais concedem foral e costumes da Covilhã a Sarzedas, com vista a restaurá-la e povoá-la.

      Este foral, e também o foral de D. Manuel I (1512), assumem grande importância para o estudo histórico de Sarzedas.

        O foral novo, outorgado por D. Manuel I em 1512, vigoraria no concelho até 1848, data em que o município foi extinto.
      Em
1762 quando Portugal esteve envolvido na Guerra dos Sete Anos, recusando-se a tomar parte na luta contra os seus velhos aliados ingleses, Portugal viu-se invadido pelos exércitos franco-espanhóis. Sarzedas foi ocupada, tendo sido aqui que o general inimigo, o espanhol Conde de Aranha, estabeleceu aqui o seu quartel.

        No inicio do
século XIX a freguesia de Sarzedas sofre novamente os horrores da guerra quando Napoleão Bonaparte, imperador dos franceses, concebe, com o fim de vencer Inglaterra, o bloqueio Continental a que Portugal se recusou aderir.

      Com o seu cortejo de crimes, saques, incêndios e roubos, entram os franceses em Sarzedas, no dia 22 de Novembro de 1807.


     A origem da palavra “Sarzedas” tem origem botânica, provavelmente radicada ou no étimo “quercus”, que significa carvalho, ou no termo “Cereceda”, lugar onde proliferam cerejeiras ou cerdeiras.


                 Festividades :


  • Festa Popular, no segundo fim-de-semana de Agosto

  • Festa da Padroeira N. Srª da Conceição, a 8 de Dezembro

     


     
    blog de jorge peres e carlos campos








 

 

outros blog do autor:

 

EL OBSERVADOR DE ENIGMAS

ENORMES NADAS

EXPIRAR POESIA

CONOCER SEVILLA ... tu calle ... esa desconocida ...

POR LA MANO DE MI MENTE

DISERTANDO

LA TV DE MI VIDA

LA MUSICA EN PORTUGAL

A MUSICA EM ESPANHA

MIS CANCIONES ORIGINALES en JAMENDO

CONCIERTOS CORBATA

MIS VIDEOCLIPS

  

No hay comentarios:

Publicar un comentario