... BRUXAS NA MATA ...
Antes
de entrar na historia que vos traigo hoje, quero deixar uma
rectificação.
Na
ultima publicação falei da aldeia de Escalos de Baixo, e da
sua lenda: A neblina de São Sebastião. Por um error,
exclusivamente de minha responsabilidade, as fotos da igreja de
São Sebastião não estavam correctas, pois as publicadas são
da vizinha aldeia de Lousa.
Pelo
respeito que me merecem os já muitos leitores que tem este blog,
deixo a promessa que as fotos futuramente publicadas serão mais
cuidadosamente confirmada … google está cheio de erros.
Se
impõe um agradecimento aos leitores que simpáticamente se
comunicaram comigo alertando-me do equívoco.
Hoje,
dedicado a todos os habitantes da simpatica aldeia de Escalos de
Baixo, e tambem como rectificação, aqui deixo imagens da sua
igreja de São Sebastião.
BRUXAS NA MATA
A
grossa chave girou na fechadura daquela porta por donde já passaram
muitos inviernos.
José
entrou, cansado por mais um dia de trabalho.
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Noémia?!!!
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Estou na cozinha!
José
tirou o casaco e colocou-o nas costas de uma cadeira … bem
direitito ou a sua mulher protestaria.
Meteu
a mão direita no bolso das calças e tirou uma mão cheia de
dinheiro … 4 notas de 20$00 (vinte escudos) … o trabalho de todo
una semana …
Depois
foi até à cozinha dar un beijo a sua esposa …
---
Que tal foi o teu dia?
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Normal … e o teu?
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Terminei o trabalho na quinta dos Lagarto. Amanhã começo com os
Lourenço.
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E já te pagaram?
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Sim … sim … está em cima da mesa.
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O jantar estará pronto em uma hora.
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Está bem. Vou mudar a cama aos animais.
Saiu
pela mesma porta. Todos os dias as galinhas e os coelhos necesitavam
cuidados … era quase como se fossem da familia.
Noémia
deitou um pouco mais de sal na panela que tinha ao lume e cujo caldo
que acabava de provar.
Depois
subiu ao quarto, para preparar a cama .
Tinha
começado essa tarefa há pouco tempo cuando escutou passos na sala
de entrada.
Sabia
que Jose estava nas traseiras … sentiu-se inquieta. Ultimamente
escutava muitos sons raros, quando pensava estar sozinha em casa.
Os
sons repetiram-se.
Olhou
à sua volta. Pendurado detras da porta do quarto estava um grande
guarda-chuva … pegou nele e começou a descer as escadas.
Antes
de chegar ao final da escada viu claramente, por debaixo da porta da
sala, como uma sombra se movia.
Segurou
ainda mais fortemente a sua arma de defesa improvisada.
Respirou
fundo, encheu-se de coragem e de um golpe … abriu a porta.
Do
outro lado uma mulher gritou assustada:
---
Credo!!! Que susto!!!!
---
Helena?!
Era
a sua cunhada.
---
Helena … que fazes aqui?
---
Passava aqui e de repente me deu a sede … --- a voz tremia-lhe ---
pensei entrar e pedir-te um copo de àgua.
---
Pensei que fosse um ladrão. Desculpa assustar-te. Queres algo mais?
---
… não …
---
Então já conheces a casa. A talha de barro com àgua esta na
cozinha. Eu tenho que fazer.
As
relações entre ela e Helena nunca haviam sido boas. A sua cunhada
era um pessoa muito especial … sabia que nunca lhe perdoara ter-lhe
roubado o irmão … eram muito chegados.
Pouco
depois escutou como se fechava a porta da rua … Helena havia saido.
Uma
hora depois estavam sentados à mesa jantando.
---
Hoje quando fui comprar o pão escutei o Ti João contar uma das suas
historias.
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Ah! Sim?! E que te contou desta vez. --- José olhava-a interessado.
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A conversa não era comigo. Diz que no cruzamento da entrada da
aldeia, todos os dias, à meia noite se juntam as bruxas para fazerem
os seus conjuros.
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Bem! A verdade é que quase toda a gente fala agora muito de bruxas,
aqui na Mata.
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Sim. Estão passando coisas muito raras …
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Tu tambem … Noémia … não me digas que tambem acreditas nessas
coisas …
---
Cala-te José. Sou eu quem está em casa todo o dia … e te digo que
de quando em quando, passam-se aqui coisas estranhas …
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Ah! Ah! Por amor de Deus … querida … tudo tem uma explicação …
falo a serio …
José
serviu-se de mais uma concha de sopa … da sempre excelente sopa de
legumes que fazia Noemia.
Antes
de meter a colher na boca olhou a sua mulher e viu-a calada, olhando
o vazio …
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Noemia … então?!!! Tranquila …
Ela
pareceu despertar dos seus pensamentos e continuou comendo.
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Por acaso hoje cuando terminei o trabalho o Luis Lagarto estava muito
preocupado.
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Porquê?
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Parece que esta noite se despertou … seriam umas 4 da madrugada …
e Aurora não estava.
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A sua mulher?
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Sim.
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Estaria fazendo as suas necesidades … não …?!!!
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Não sabe. Esteve esperando que voltasse mas adormeceu e quando
despertou pela manhã ela dormia tranquilamente a seu lado.
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E que pensa ele?
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Pois que irá pensar ?!!?!! --- serviu-se de um copo de vinho tinto
--- pensa o que pensam agora todos os homens que acordam pela noite e
não têm ao lado as suas consortes …
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Que Aurora é uma bruxa?!!!
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Bem ! … não disse tanto … mas no fundo sei que é o que pensa?
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E tu que pensas de isso?
---
Eu não tenho por que pensar nada … eu sempre que me desperto de
noite … tu estás sempre comigo … eh eh eh …
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Porque se não também pensarias o mesmo?
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Claro que não, amor meu … estava a brincar …
Ela
tentou um sorriso … mas não lhe saiu … Toda a gente falava do
mesmo.
José
pensou que já bastava daquele tema … sentia que a sua esposa
estava verdadeiramente preocupada.
---
Guardaste o dinheiro, Noemia?
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Que dinheiro? Não vi dinheiro nenhum !
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Deixei-o aqui em cima de esta mesa.
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Pus a toalha e não vi nada.
Rapidamente
tiraram tudo o que havia em cima da mesa. Mas debaixo da toalha não
havia nada.
José
começou a ficar nervoso …
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Deixei aqui oitenta escudos em notas de 20 … o trabalho de toda
uma semana.
---
José … juro-te que não vi nada.
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Calma mulher … não estou desconfiando de ti … mas pode que ao
por a toalha as notas se caissem ao chão.
Num
rapido momento estavam os dois de joelhos … mas debaixo da mesa
tambem não havia nada ….
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Vamos a ver … --- tentava acalmar-se --- eu cheguei à uma hora e
meia … e ninguem mais esteve aqui …
---
Pois não … ou … sim …
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Sim ?!!!??
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Sim … esteve aqui a tua irmã.
---
Helena?
---
Tienes outra?
Sempre
que falava da sua cunhada a voz alterava-se …
---
Não a vi … que queria ela?
---
Beber um copo de àgua.
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Espera … não quererás dizer que … levou o dinheiro?
---
Eu não disse isso.
José
olhou a esposa … a verdade é que sendo a sua irmã a unica pessoa
a estar ali … …
---
Estiveste com ela?
---
Não. Eu estava no quarto a preparar a cama … ela bebeu e foi-se.
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Não pode ser … a minha irmã é muito dificil … mas não é uma
ladra.
De
repente um som vindo do andar de cima se fez ouvir.
---
Que é isso?!
---
O que te dizia há pouco. Esta casa está cheia de sons raros.
---
Já pensaste que começaste a queixar-te de essas coisas estranhas
desde que Luis e sua mulher estiveram aqui a pedirem para que fosse
ferrar os cavalos?
---
Então sempre cres que Aurora possa ser bruxa?
---
Eu não ... mulher … é só uma coincidencia.
Novo
barulho se escutou … como se alguem deixase cair algo no quarto.
---
Ha alguem aí em cima.
Levantaram-se
os dois e começaram a subir as escadas.
---
Espera.
Noemia
voltou ao salão regressando logo depois com o mesmo guarda-chuva com
que se armara umas horas antes.
Os
dois subiram tentando não fazer qualquer ruido.
Abriram
a porta do quarto … mas estava vazio … e tudo estava no seu lugar
...
Novo
som … de esta vez no andar de baixo …
---
Seja o que for … esta gozando connosco …
José
já estava mais que zangado … desceram as escadas corriendo.
Mas
na sala não estava ninguem.
José
deu um murro na mesa.
---
José … olha …
Noemia
apontava com a mão o cortinado da janela …
José
olhou … e ficou atónito … devagar … aproximou-se …
Presas
nas cortinas … as cuatro notas de 20$00.
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O dinheiro … !!!
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Foste tu que o puseste aí?
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Não!
Uma
a uma, colheu o dinheiro.
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Reparara … Noémia … estão totalmente lisas …
Ela
aproximou-se tambem …
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Que estranho … como se as tivessem engomado …
---
Mas eu trouxe-as no bolso … completamente enroladas … estou
seguro de isso …
Atravessou
a sala e foi por o dinheiro numa caixa de latão que estava no alto
do armario da cozinha.
Ninguem
sabia que esse era o esconderijo do pouco dinheiro que conseguiam
juntar.
---
Anda mulher … terminemos a janta.
Sentaram-se
de novo à mesa. Desta vez comeram em silencio.
José
não sabia em que acreditar … mas fosse o que fosse … estava
querendo gozar com a sua cara … e não estava disposto a
consenti-lo.
De
repente escutou-se uma risa … não muito forte … como o sorriso
trocista de uma mulher …
José
estava bebendo e instintivamente lançou o copo na direcção do som.
O
som dos cristais partindo-se de encontro à parede calou a risa …
---
Tranquilo José … --- Noemia levantou-se e foi abrazar o marido …
José
estava mais calmo … e repente voltou o silencio … as gargalhadas
de Aurora já não se escutavam.
DRAMATIZAÇÃO - jorge peres
Esta
historia é contada há muitos anos pela aldeia da Mata. La recolhi
nas minhas pesquisas no blog: CEAO – Centro de Estudos Ataíde de
Oliveira, cujo enlace vos deixo para que possam conhece-lo:
Mata
é uma aldeia que dista cerca de 16 quilómetros de Castelo
Branco.
Situa-se
na margem direita da ribeira
de Alpeadre,
sub-afluente do rio
Ponsul.
É
uma terra, basicamente de agricultores, donde predomina a vinha, a
oliveira, a horticultura e o pastoreio.
A
implantação da oliveira, sabe-se, vem do tempo do dominio romano.
Vos
deixo imagens da aldeia da Mata … desta vez previamente
confirmadas ...
BLOG DA AUTORIA DE jorge peres E carlos campos.
OUTROS BLOGS DE jorge peres:
Da Mata apenas me recordo de uma placa que na estrada que seguia para Ladoeiro, indicava... Mata 5...E o pessoal ironizava com o texto... Passado algum tempo, teria passado para Mata 3...A aldeia crescera.
ResponderEliminarFoi Mata cinco, sim, mas quando não havia estrada alcatroada. E a placa não estava no local onde se enontra hoje. É Mata-3 desde os finais dos anos cinquenta do século passado. E cresceu, cerca de trezentos metros. Nada de significativo, portanto.
ResponderEliminarNão conhecia esta história de bruxas, ainda que a Mata tenha sido desde sempre muito dada a histórias de bruxas, espíritos e entidades afins.
Esta, não sei bem porquê, parece-me pouco verosímil; porém, prometo que a vou ler melhor.~
As fotografias são da Mata. Eu certifico-as. :)