domingo, 5 de mayo de 2013

... A ESPOSA DO REI WUAMBA ... parte I



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   Quase completamente submergida, só a sua cabeça sobressaía da agua. Era muito agradável a sensação de frescura que invadia o seu corpo. Por ela ficaria assim horas sem fim.

   --- Senhora … seria prudente voltar ao castelo.

   A voz veio chamar à realidade aquele espírito relaxado.

   --- Tens razão. Saiamos da agua. --- respondeu com semblante tranquilo.

   Três raparigas aproximaram-se trazendo uma enorme toalha de linho branco.

   A margem estava a poucos passos e aí a esperavam outras duas mulheres e dois homens, montados a cavalo com um terceiro animal sem cavaleiro.

   --- Podeis seguir, eu subirei com as minhas aias.

   --- Como queira, senhora.

   Os homens incitaram os seus cavalos e, rapidamente, desapareceram no meio da vegetação.

   --- Vamos … temos que subir … --- as cinco mulheres sorriram respeitosamente e seguiram-na … de repente, uma delas ficou estática olhando a outra margem.

   --- Que passa Bruneida?

  --- Não sei bem, senhora. Pareceu-me ver alguém do outro lado.

   Todas param tentando vislumbrar algum movimento … mas todo parecia estar deserto.

   --- Vamos … já é tarde … o rei espera-me.

  A chegada ao castelo levou-lhes quase quarenta minutos.

   Wuamba, o grande rei visigodo esperava-as à entrada do portão principal.

   --- Estava preocupado, Amélia … dentro de mui pouco anoitecerá.

   Amélia, a bela rainha, fez uma vénia.

   --- Perdão senhor meu esposo e rei … subi a pé com as aias … perdemos um pouco a noção do tempo. Não voltará a passar.

   O rei fez um momento de pausa …

   --- Ide vestir-vos … jantaremos dentro de uma hora.

   --- Com vossa licença … --- nova vénia.

   Wuamba fez um sinal a um dos escudeiros que se aproximou silenciosamente.

   --- Quero que redobres a vigilância junto ao rio. Os mouros estão do outro lado.

   --- Não se atreverão a passar as aguas … levariam muito tempo e denunciariam a sua intenção.

   --- Pode ser que tenhas razão … mas sempre que a senhora baixe, põe dois homens mais na escolta.

   --- Será como ordenais, senhor meu rei.

 

 

 

 

 

  O jantar decorreu em silencio. Sobre a grande mesa havia muita comida. Amélia estava esfomeada … nadar abria-lhe o apetite.

   --- Um dia terás de ajudar-me a compreender que prazer se poderá sentir ao estar enterrado em agua.

   Amélia não evitou um largo sorriso.

   --- É maravilhoso ... é uma sensação difícil de explicar por palavras … porque não me acompanhais um dia?

   --- Eu?!!! Não seria digno de um rei. Que diriam os nossos súbitos? Perderiam-me o respeito.

   --- Claro que não senhor meu. Experimentai um dia … um só dia … estou certa que mudaria a vossa opinião.

   --- Definitivamente … não!

   O silencio voltou ao salão.

   Dois dias depois, Amélia deu-se conta que a guarda que a acompanhava ao rio tinha aumentado.

   A ela, e ás suas aias, não lhes pareceu importar.

   Desta vez foi ela mesmo, que, quando estava totalmente dentro de água, se deu conta de um movimento na outra margem.

   --- Olhai senhora.

   --- Sim. Agora também vi. Além, junto àquela árvore.

   --- Está muito longe … não dá para ver claramente.

   --- Pareceu-me ver um homem.

   --- Si, senhora minha … a mim também me pareceu.

   Amélia olhou na direcção contraria. Os soldados estavam distraídos … não se tinham apercebido de nada … melhor assim.

   --- A ver se aqueles não se dão conta … Wuamba jamais permitiria que voltássemos aqui.

   --- Não seria melhor voltar ao castelo?

   --- Está bem …

   No dia seguinte Amélia não se sentia bem fisicamente. Chamou Bruneida ao seu quarto.

   --- Não me sinto bem, hoje no baixo ao rio.

   --- Muito bem, senhora.

  --- Mas não quero que vos priveis desse prazer … quero que baixeis vós, sem mim.

   --- Não ficaria bem, senhora. Esperaremos que se recomponha Sua Majestade.

   --- Não! É uma ordem! Quero que vaiais.

   --- Como mande, senhora minha. Comunicarei com as outras.

   Ao sair do quarto cruzou-se com o rei e fez uma grande vénia.

   Wuamba entrou com ar preocupado.

   --- Disseram-me que estáveis indisposta.

   --- É verdade. Hoje prefiro ficar deitada, descansando.

   --- Fazeis bem.

   --- Uma coisa, senhor meu rei.

   --- Dizei, rainha.

   --- Dei ordens para que as minhas aias baixem sem mim. Poderias mandar os soldados de protecção, tal como quando vou eu?

   --- Será como desejais, senhora minha. Vos mandarei o curandeiro para que vos veja.

   --- Obrigado, senhor meu rei.

   Ao ficar sozinha, Amélia fechou os olhos … não tardou em adormecer.

 

 

 

 

 

  O despertar foi suave. Uma voz doce a fez abrir os olhos …

   --- Senhora … tenho que falar-vos. --- Bruneida estava ajoelhada junto à cama.

   --- Que aconteceu?

   --- Acabo de chegar do rio.

   --- Os soldados foram convosco?

   --- Não senhora …

   --- Falarei com o rei.

   --- Não venho falar disso senhora, sinceramente, prefiro que os soldados fiquem no castelo.

   --- Então que se passou ?

   --- Os do outro lado …

   --- Os mouros?

   --- Sim. Um deles cruzou o rio.

   Amélia sentou-se na cama.

   --- Que dizes?! Até este lado?!

   --- Não. Até ao meio do rio. Trazia uma mensagem.

   --- Uma mensagem? De quem? Para quem?

   --- A mensagem era para vós, senhora?

   --- Para mim? E de quem?

   --- De Mutsafari, rei dos Mouros da margem sul.

   --- E que quer?

   --- Quer ver-la?

   --- Impossível.

   --- Isso lhe disse eu … expliquei-lhe que vós sois a esposa do rei Wuamba, pela cara do homem, via-se que não tinha nem ideia.

   --- E que te respondeu?

   --- Pois, que transmitiria a mensagem ao seu senhor.

   --- Ah! Que não era o rei mouro em pessoa?!

   --- Não! Era um emissário.

  --- Bem! Disseste-lhe quem eu era. Não voltará a importunar-nos.

 

                       ( continua )

 

 

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