viernes, 22 de febrero de 2013

... BRUXAS NA MATA ...




    Antes de entrar na historia que vos traigo hoje, quero deixar uma rectificação.

    Na ultima publicação falei da aldeia de Escalos de Baixo, e da sua lenda: A neblina de São Sebastião. Por um error, exclusivamente de minha responsabilidade, as fotos da igreja de São Sebastião não estavam correctas, pois as publicadas são da vizinha aldeia de Lousa.

      Pelo respeito que me merecem os já muitos leitores que tem este blog, deixo a promessa que as fotos futuramente publicadas serão mais cuidadosamente confirmada … google está cheio de erros.

    Se impõe um agradecimento aos leitores que simpáticamente se comunicaram comigo alertando-me do equívoco.

     Hoje, dedicado a todos os habitantes da simpatica aldeia de Escalos de Baixo, e tambem como rectificação, aqui deixo imagens da sua igreja de São Sebastião.

 

 

 

 

                                             BRUXAS NA MATA

 

 

     A grossa chave girou na fechadura daquela porta por donde já passaram muitos inviernos.

     José entrou, cansado por mais um dia de trabalho.

     --- Noémia?!!!

     --- Estou na cozinha!

    José tirou o casaco e colocou-o nas costas de uma cadeira … bem direitito ou a sua mulher protestaria.

     Meteu a mão direita no bolso das calças e tirou uma mão cheia de dinheiro … 4 notas de 20$00 (vinte escudos) … o trabalho de todo una semana …

      Depois foi até à cozinha dar un beijo a sua esposa …

      --- Que tal foi o teu dia?

      --- Normal … e o teu?

     --- Terminei o trabalho na quinta dos Lagarto. Amanhã começo com os Lourenço.

      --- E já te pagaram?

      --- Sim … sim … está em cima da mesa.

      --- O jantar estará pronto em uma hora.

      --- Está bem. Vou mudar a cama aos animais.

 

  

      Saiu pela mesma porta. Todos os dias as galinhas e os coelhos necesitavam cuidados … era quase como se fossem da familia.

       Noémia deitou um pouco mais de sal na panela que tinha ao lume e cujo caldo que acabava de provar.

       Depois subiu ao quarto, para preparar a cama .

 

 

 

 

 

     Tinha começado essa tarefa há pouco tempo cuando escutou passos na sala de entrada.

   Sabia que Jose estava nas traseiras … sentiu-se inquieta.   Ultimamente escutava muitos sons raros, quando pensava estar sozinha em casa.

      Os sons repetiram-se.

     Olhou à sua volta. Pendurado detras da porta do quarto estava um grande guarda-chuva … pegou nele e começou a descer as escadas.

     Antes de chegar ao final da escada viu claramente, por debaixo da porta da sala, como uma sombra se movia.

      Segurou ainda mais fortemente a sua arma de defesa improvisada.

    Respirou fundo, encheu-se de coragem e de um golpe … abriu a porta.

 

 

 

 

 

     Do outro lado uma mulher gritou assustada:

     --- Credo!!! Que susto!!!!

     --- Helena?!

    Era a sua cunhada.

     --- Helena … que fazes aqui?

    --- Passava aqui e de repente me deu a sede … --- a voz tremia-lhe --- pensei entrar e pedir-te um copo de àgua.

     --- Pensei que fosse um ladrão. Desculpa assustar-te. Queres algo mais?

      --- … não …

    --- Então já conheces a casa. A talha de barro com àgua esta na cozinha. Eu tenho que fazer.

   As relações entre ela e Helena nunca haviam sido boas. A sua cunhada era um pessoa muito especial … sabia que nunca lhe perdoara ter-lhe roubado o irmão … eram muito chegados.

    Pouco depois escutou como se fechava a porta da rua … Helena havia saido.

 

 

 

       Uma hora depois estavam sentados à mesa jantando.

      --- Hoje quando fui comprar o pão escutei o Ti João contar uma das suas historias.

     --- Ah! Sim?! E que te contou desta vez. --- José olhava-a interessado.

    --- A conversa não era comigo. Diz que no cruzamento da entrada da aldeia, todos os dias, à meia noite se juntam as bruxas para fazerem os seus conjuros.

    --- Bem! A verdade é que quase toda a gente fala agora muito de bruxas, aqui na Mata.

     --- Sim. Estão passando coisas muito raras …

   --- Tu tambem … Noémia … não me digas que tambem acreditas nessas coisas …

    --- Cala-te José. Sou eu quem está em casa todo o dia … e te digo que de quando em quando, passam-se aqui coisas estranhas …

    --- Ah! Ah! Por amor de Deus … querida … tudo tem uma explicação … falo a serio …

     José serviu-se de mais uma concha de sopa … da sempre excelente sopa de legumes que fazia Noemia.

     Antes de meter a colher na boca olhou a sua mulher e viu-a calada, olhando o vazio …

     --- Noemia … então?!!! Tranquila …

     Ela pareceu despertar dos seus pensamentos e continuou comendo.

 

 

 

 

      --- Por acaso hoje cuando terminei o trabalho o Luis Lagarto estava muito preocupado.

      --- Porquê?

   --- Parece que esta noite se despertou … seriam umas 4 da madrugada … e Aurora não estava.

     --- A sua mulher?

     --- Sim.

     --- Estaria fazendo as suas necesidades … não …?!!!

  --- Não sabe. Esteve esperando que voltasse mas adormeceu e quando despertou pela manhã ela dormia tranquilamente a seu lado.

     --- E que pensa ele?

    --- Pois que irá pensar ?!!?!! --- serviu-se de um copo de vinho tinto --- pensa o que pensam agora todos os homens que acordam pela noite e não têm ao lado as suas consortes …

     --- Que Aurora é uma bruxa?!!!

     --- Bem ! … não disse tanto … mas no fundo sei que é o que pensa?

     --- E tu que pensas de isso?

     --- Eu não tenho por que pensar nada … eu sempre que me desperto de noite … tu estás sempre comigo … eh eh eh …

     --- Porque se não também pensarias o mesmo?

     --- Claro que não, amor meu … estava a brincar …

    Ela tentou um sorriso … mas não lhe saiu … Toda a gente falava do mesmo.

 

 

 

 

      José pensou que já bastava daquele tema … sentia que a sua esposa estava verdadeiramente preocupada.

       --- Guardaste o dinheiro, Noemia?

       --- Que dinheiro? Não vi dinheiro nenhum !

       --- Deixei-o aqui em cima de esta mesa.

       --- Pus a toalha e não vi nada.

    Rapidamente tiraram tudo o que havia em cima da mesa. Mas debaixo da toalha não havia nada.

      José começou a ficar nervoso …

     --- Deixei aqui oitenta escudos em notas de 20 … o trabalho de toda uma semana.

     --- José … juro-te que não vi nada.

    --- Calma mulher … não estou desconfiando de ti … mas pode que ao por a toalha as notas se caissem ao chão.

    Num rapido momento estavam os dois de joelhos … mas debaixo da mesa tambem não havia nada ….

     --- Vamos a ver … --- tentava acalmar-se --- eu cheguei à uma hora e meia … e ninguem mais esteve aqui …

     --- Pois não … ou … sim …

     --- Sim ?!!!??

     --- Sim … esteve aqui a tua irmã.

     --- Helena?

     --- Tienes outra?

    Sempre que falava da sua cunhada a voz alterava-se …

     --- Não a vi … que queria ela?

    --- Beber um copo de àgua.

    --- Espera … não quererás dizer que … levou o dinheiro?

    --- Eu não disse isso.

    José olhou a esposa … a verdade é que sendo a sua irmã a unica pessoa a estar ali … …

     --- Estiveste com ela?

     --- Não. Eu estava no quarto a preparar a cama … ela bebeu e foi-se.

    --- Não pode ser … a minha irmã é muito dificil … mas não é uma ladra.

 

 

 

 

 

     De repente um som vindo do andar de cima se fez ouvir.

      --- Que é isso?!

      --- O que te dizia há pouco. Esta casa está cheia de sons raros.

     --- Já pensaste que começaste a queixar-te de essas coisas estranhas desde que Luis e sua mulher estiveram aqui a pedirem para que fosse ferrar os cavalos?

      --- Então sempre cres que Aurora possa ser bruxa?

       --- Eu não ... mulher … é só uma coincidencia.

    Novo barulho se escutou … como se alguem deixase cair algo no quarto.

       --- Ha alguem aí em cima.

      Levantaram-se os dois e começaram a subir as escadas.

      --- Espera.

    Noemia voltou ao salão regressando logo depois com o mesmo guarda-chuva com que se armara umas horas antes.

      Os dois subiram tentando não fazer qualquer ruido.

 

 

 

 

      Abriram a porta do quarto … mas estava vazio … e tudo estava no seu lugar ...

       Novo som … de esta vez no andar de baixo …

       --- Seja o que for … esta gozando connosco …

       José já estava mais que zangado … desceram as escadas corriendo.

       Mas na sala não estava ninguem.

      José deu um murro na mesa.

      --- José … olha …

      Noemia apontava com a mão o cortinado da janela …

      José olhou … e ficou atónito … devagar … aproximou-se …

      Presas nas cortinas … as cuatro notas de 20$00.

      --- O dinheiro … !!!

     --- Foste tu que o puseste aí?

     --- Não!

     Uma a uma, colheu o dinheiro.

      --- Reparara … Noémia … estão totalmente lisas …

      Ela aproximou-se tambem …

      --- Que estranho … como se as tivessem engomado …

     --- Mas eu trouxe-as no bolso … completamente enroladas … estou seguro de isso …

    Atravessou a sala e foi por o dinheiro numa caixa de latão que estava no alto do armario da cozinha.

     Ninguem sabia que esse era o esconderijo do pouco dinheiro que conseguiam juntar.

      --- Anda mulher … terminemos a janta.

 

 

 

 

       Sentaram-se de novo à mesa. Desta vez comeram em silencio.

      José não sabia em que acreditar … mas fosse o que fosse … estava querendo gozar com a sua cara … e não estava disposto a consenti-lo.

      De repente escutou-se uma risa … não muito forte … como o sorriso trocista de uma mulher …

        José estava bebendo e instintivamente lançou o copo na direcção do som.

        O som dos cristais partindo-se de encontro à parede calou a risa …

       --- Tranquilo José … --- Noemia levantou-se e foi abrazar o marido …

   José estava mais calmo … e repente voltou o silencio … as gargalhadas de Aurora já não se escutavam.

 

DRAMATIZAÇÃO - jorge peres

 

 

 

      Esta historia é contada há muitos anos pela aldeia da Mata. La recolhi nas minhas pesquisas no blog: CEAO – Centro de Estudos Ataíde de Oliveira, cujo enlace vos deixo para que possam conhece-lo:


 

 

        Mata é uma aldeia que dista cerca de 16 quilómetros de Castelo Branco.

     Situa-se na margem direita da ribeira de Alpeadre, sub-afluente do rio Ponsul.

    É uma terra, basicamente de agricultores, donde predomina a vinha, a oliveira, a horticultura e o pastoreio.

      A implantação da oliveira, sabe-se, vem do tempo do dominio romano.

     Vos deixo imagens da aldeia da Matadesta vez previamente confirmadas ...

 





 

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domingo, 10 de febrero de 2013

... A NEBLINA DE SÃO SEBASTIÃO ...





                                       ESCALOS DE BAIXO





 
      Parou, um pouco para recompor as forças. Já vinha correndo há mais de duas horas e estava quase no seu limite … mas tinha que chegar à vila … era indispensavel que chegasse.




 

      Era Fernando Chagas, o padeiro de Escalos de Baixo, homem bem conhecido por todos, não só pela sua profissão, como por ser a pessoa mais activa, socialmente falando … havia gente que pensava propor-lo para futuro alcaide …

      Fernando corria para levar aos seus cofrades o que ele sabia … não eram boas noticias …

 

 

 

 


       A situação nacional estava muito complicada … D. João VI declarou que Portugal estava contra o bloqueio continental ordenado por Napoleão …

          Fernando era considerado como o homem mais bem informado da vila … e isso porque tinha um primo da sua mulher que estava muito bem colocado na administração publica em Castelo Branco … sempre que algo estava para acontecer mandava um pagem a cavalo …

 

 


 

       Mas desta vez Fernando, impaciente pela ausencia de contacto foi ele mesmo à cidade. Uma queda, na viagem de regresso fe-lo ficar sem cavalo e o resto do caminho havia que correr … e assim estava … mais morto que vivo …

       Em Castelo Branco falara com o seu primo … as coisas estavam mal … como se esperava, Napoleão iria invadir Portugal …. e com ele vinham os seus aliados … os vizinhos espanhois … as piores expectativas pareciam que se iam a cumprir … a invasão entraria pelo vale do Tejo … e isso punha Escalos de Baixo numa possivel rota de passagem … e bem sabia o que fariam as tropas franco-espanholas a tudo e todos que encontrassem no seu caminho.

 

 

 


 

      Os pouco minutos que havia parado serviram para recuperar – se um pouco … voltou à sua corrida … ainda faltavam um par e quilometros …

      A sua cabeça girava a mil … imaginava já varios cenários possiveis … e não lhe gostava nenhum deles …

     Já avistava as primeiras casas.

 

 

 

 


       Primeiro passaria pela igreja, o padre Inácio tinha que tocar todos os sinos … havia que reunir todo o povo.

    Hora e meia depois estavam todos no salão paroquial, o maior espaço o povoado e esperavam, no sem alguma ansiedade, as novidades que trazia Fernando.

    --- Já todos sabem porque estamos aqui. --- o padre tomava a palavra.

     Todos olharam na direcção de Fernando.

     --- Más noticias, amigos meus … más noticias.

   --- Veem os franceses? --- a pregunta foi repetida ao mesmo tempo por mais de metade dos presentes.

    --- Sim … e os espanhois com eles …

    --- Estamos perdidos … de certeza que veem por aqui …

    --- Em Castelo Branco não têm a certeza absoluta … mas pensa-se que entrarão pelo rio …

    --- E que pensa hacer o representante do rei?

    --- Não ides acreditar …

    --- Vão por-se do lado deles?

    --- Si. Mandarão uma embaixada e tentarão não entrar em conflito …

    --- Traidores …

   --- Tranquilos … esse não é um problema nosso … tenemos coisas mais importantes em que pensar …

   --- É verdade. Primeiro passarão por aqui … estamos em grande perigo.

    --- Temos que pensar que vamos a fazer …

   A verdade é que não tinham muitas acções possiveis …

    --- Os de Castelo Branco têm razão … há que tentar dialogar … pode que assim não nos ataquem …

    A grande maioria assobiou …

    --- Es tão traidor como eles …

    --- Temos que resistir … conhecemos esta região como ninguém …

Fernando levantou os brazos …

  --- Pensem bem … quantos homens fortes para combater conseguimos reunir? 100? 200? Eles serão mais de 20 000. Temos que ser realistas.

   --- Podemos rezar.

A ideia vinha, como era evidente, do padre Inácio.

   --- Para quando se preve a chegada os exercitos?

   --- O meu primo disse-me que dentro de dois dias.

   Padre Inácio levantou-se … fez-se silencio …

 

 

 

 

 

     --- Cada um fará o que melhor lhe pareça … eu, amanhã, pelo nascer do sol subirei ao cabeço e estarei rezando até que tudo se solucione.

     O silencio permaneceu por largos minutos … depois alguem disse:

     --- E isso que resolve?

    --- Tens uma ieia melhor? --- a voz de Inácio era firme --- O senhor nos ajudará. Quem quiser que me siga … amanhã pela manhã.

 

 

 

 

    A reunião estava terminada. Fernando regressou a casa … Manuela, sua esposa escutou por suas palavras todo o que havia passado …

    --- Que vais tu fazer, Fernando?

   --- Não sei, querida esposa … talvez Inácio tenha razão … só Deus nos poderá ajudar.

 

 

 




      Eram centenas os que ao nascer do sol esperavam a saida do padre para acompanhá-lo. Inácio ficou perplexo … nem ele esperava ter tantos acompanhantes …

     A caminhada até ao cimo do cabeço não levou mais de vinte minutos … aí chegados sentaram-se no chão e o sacerdote tomou as rédeas o dia.

 

 

 

 

 

     Quando já ameaçava a noite ouviram rumores de gente que chegava … todo o povo se lhes juntava e trazia comida e mantas … e mais más noticias …

      --- Santiago, o pastor, viu à distancia os primeiros cavalos, os invasores estarão aqui amanhã antes da hora de almoço.

        A noticia caiu como uma bomba … o silencio foi brutal …

        --- Rezemos, irmãos … rezemos …

      Por toda a noite se repitram as oracções, sempre presididas pelo pare Inacio … poco a poco, o cansaço foi vencendo um a um … por fim Inácio deu-se conta que estava orando sozinho …

     Também ele estava exausto … temia pelo que podria passar a toda aquela gente … olhava o céu escuro …

    --- Meu Deus … ajudai estes pobres subitos … São Sebastião … tu que eres o santo padroeiro de todos nós … olha pelo teu povo … salva-nos de um mal que não buscamos nem provocamos …

      Como humano que era, Inácio tambem acabou por fechar os olhos e adormecer encostado a uma arvore.

     E sonhou … sonhou que São Sebastião o olhava e lhe dizia … “ A vossa fé vos salvará … “

 

 

 

 

 

     O dia chegou e, pouco a pouco todos foram despertando … não se via um palmo em toda a volta … o dia amanhecera com um espesso nevoeiro …

      --- O que nos faltava … e agora como vamos a ver o que pasa?

     Uma vez mais o padre Inácio impos a calma …

   --- Tranquilos … pode ser que Deus nos manda esta niebla para ajudar-nos.

    --- Como nos vai ajudar este nevoeiro de cortar à faca?

    --- Tu ves alguma coisa?

    --- Pois ... não …

    --- Então ninguem nos pode ver a nós … verdade?!!!

   Todos pararam … padre Inacio tinha razão … será que seria aquela a ajuda divina por que tanto haviam rezado?

   --- São Sebastião nos mandou uma ajuda … mas tambem temos que fazer algo …

   --- Que podemos fazer?

  --- Silencio … vamos estar aqui todos em silencio para que ninguem nos possa escutar.

   Todos compreenderam a ideia … e o silencio imperou em todo o cabeço …

 

 

 

 

 

 

     Assim estiveram horas … parecia que o tempo não passava … a meio da tarde escutaram sons …

   Eram vozes de mando militares, ruidos de rodas de carros empurrados, supostamente por soldados …

     Por veces dava a impressão que estariam a poucos metros de onde se encontravam …

   Evitavam até respirar com força para não denunciar a sua presença.

   Pouco a pouco o silencio voltou àquelas paragens … no entanto não ousavam falar …

   De novo caíu a noite e todos permaneceram calados.






 

     O novo dia trouxe sol … muito sol … mantinha-se a duvida … que fazer?

      --- Um voluntário para baixar à vila e ver como estão as coisas?

De imediato se levantou um menino … não teria mais que 14 anos.

      --- És muito joven …

    --- Por isso posso conseguir-lo melhor que qualquer de vós … e é mais rapido …

      --- Bem. Vai com cuidado. Como te chamas?

      --- José.

     Inácio aproximou-se dele e pos a mão na sua cabeça.

     --- Que Deus te acompanhe, meu filho.

 





 

      José saiu corriendo por entre as arvores.

      Demorou umas duas horas, que para todos pareceu uma eternidade … quando regressou vinha cansado … mas feliz …

     --- Como está tudo?

  --- Muito bem … náo há sinal de franceses, nem espanhois … encontrei a D. Jacinta … ela disse que não viu ninguem no dia de ontem …

    Jacinta era a pessoa mais velha da vila … quando subiram ao cabeço sabiam que ela não poderia acompanhar-los.

 

 

 


 

       As noticias trazidas por José tranquilizou a todos.

     --- Irmãos … São Sebastião mandou o nevoeiro para ajudar-nos … com ele escondeu a vila de Escalos de Baixo … vamos rezar por agradecimento … proponho que construamos aqui mesmo uma igreja em seu louvor …

      Todos pareceram estar de acordo e cairam de joelhos agradecendo ao santo protector.

 

 

 

      Esta é uma das lendas que segundo dizem deu origem à capela de São Sebastião e á romaria que todos os anos, no dia da Nossa Senhora da Santissima Trindade , em ESCALOS DE BAIXO.

       É curioso que durante o estudo de pesquisa que fiz sobre esta lenda descobrí tres versões com a mesma base.

       Uma contava a invasão dos arabes, em que se salvou a vila por uma neblina espessa.

      Outra contava a invasão dos espanhois, durante a guerra da independencia … a solução aparecia divinamente pela mesma manera … nevoeiro que ocultava a vila …

     Escolhi como base o livro de MITOS E LENDAS DA BEIRA de JOSÉ CARLOS DUARTE MOURA, e aqui encontrei a versão que me pareceu mais verosimil e me serviu de base para esta dramatização.

 

 



 

 

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