viernes, 22 de febrero de 2013
domingo, 10 de febrero de 2013
... A NEBLINA DE SÃO SEBASTIÃO ...
ESCALOS DE BAIXO
Parou,
um pouco para recompor as forças. Já vinha correndo há mais de
duas horas e estava quase no seu limite … mas tinha que chegar à
vila … era indispensavel que chegasse.
Era Fernando Chagas, o padeiro de Escalos de Baixo, homem bem conhecido por todos, não só pela sua profissão, como por ser a pessoa mais activa, socialmente falando … havia gente que pensava propor-lo para futuro alcaide …
Fernando corria para levar aos seus cofrades o que ele sabia … não eram boas noticias …
A situação nacional estava muito complicada … D. João VI declarou que Portugal estava contra o bloqueio continental ordenado por Napoleão …
Fernando era considerado como o homem mais bem informado da vila … e isso porque tinha um primo da sua mulher que estava muito bem colocado na administração publica em Castelo Branco … sempre que algo estava para acontecer mandava um pagem a cavalo …
Mas desta vez Fernando, impaciente pela ausencia de contacto foi ele mesmo à cidade. Uma queda, na viagem de regresso fe-lo ficar sem cavalo e o resto do caminho havia que correr … e assim estava … mais morto que vivo …
Em Castelo Branco falara com o seu primo … as coisas estavam mal … como se esperava, Napoleão iria invadir Portugal …. e com ele vinham os seus aliados … os vizinhos espanhois … as piores expectativas pareciam que se iam a cumprir … a invasão entraria pelo vale do Tejo … e isso punha Escalos de Baixo numa possivel rota de passagem … e bem sabia o que fariam as tropas franco-espanholas a tudo e todos que encontrassem no seu caminho.
Os pouco minutos que havia parado serviram para recuperar – se um pouco … voltou à sua corrida … ainda faltavam um par e quilometros …
A sua cabeça girava a mil … imaginava já varios cenários possiveis … e não lhe gostava nenhum deles …
Já avistava as primeiras casas.
Primeiro passaria pela igreja, o padre Inácio tinha que tocar todos os sinos … havia que reunir todo o povo.
Hora e meia depois estavam todos no salão paroquial, o maior espaço o povoado e esperavam, no sem alguma ansiedade, as novidades que trazia Fernando.
--- Já todos sabem porque estamos aqui. --- o padre tomava a palavra.
Todos olharam na direcção de Fernando.
--- Más noticias, amigos meus … más noticias.
--- Veem os franceses? --- a pregunta foi repetida ao mesmo tempo por mais de metade dos presentes.
--- Sim … e os espanhois com eles …
--- Estamos perdidos … de certeza que veem por aqui …
--- Em Castelo Branco não têm a certeza absoluta … mas pensa-se que entrarão pelo rio …
--- E que pensa hacer o representante do rei?
--- Não ides acreditar …
--- Vão por-se do lado deles?
--- Si. Mandarão uma embaixada e tentarão não entrar em conflito …
--- Traidores …
--- Tranquilos … esse não é um problema nosso … tenemos coisas mais importantes em que pensar …
--- É verdade. Primeiro passarão por aqui … estamos em grande perigo.
--- Temos que pensar que vamos a fazer …
A verdade é que não tinham muitas acções possiveis …
--- Os de Castelo Branco têm razão … há que tentar dialogar … pode que assim não nos ataquem …
A grande maioria assobiou …
--- Es tão traidor como eles …
--- Temos que resistir … conhecemos esta região como ninguém …
Fernando levantou os brazos …
--- Pensem bem … quantos homens fortes para combater conseguimos reunir? 100? 200? Eles serão mais de 20 000. Temos que ser realistas.
--- Podemos rezar.
A ideia vinha, como era evidente, do padre Inácio.
--- Para quando se preve a chegada os exercitos?
--- O meu primo disse-me que dentro de dois dias.
Padre Inácio levantou-se … fez-se silencio …
--- Cada um fará o que melhor lhe pareça … eu, amanhã, pelo nascer do sol subirei ao cabeço e estarei rezando até que tudo se solucione.
O silencio permaneceu por largos minutos … depois alguem disse:
--- E isso que resolve?
--- Tens uma ieia melhor? --- a voz de Inácio era firme --- O senhor nos ajudará. Quem quiser que me siga … amanhã pela manhã.
A reunião estava terminada. Fernando regressou a casa … Manuela, sua esposa escutou por suas palavras todo o que havia passado …
--- Que vais tu fazer, Fernando?
--- Não sei, querida esposa … talvez Inácio tenha razão … só Deus nos poderá ajudar.
Eram centenas os que ao nascer do sol esperavam a saida do padre para acompanhá-lo. Inácio ficou perplexo … nem ele esperava ter tantos acompanhantes …
A caminhada até ao cimo do cabeço não levou mais de vinte minutos … aí chegados sentaram-se no chão e o sacerdote tomou as rédeas o dia.
Quando já ameaçava a noite ouviram rumores de gente que chegava … todo o povo se lhes juntava e trazia comida e mantas … e mais más noticias …
--- Santiago, o pastor, viu à distancia os primeiros cavalos, os invasores estarão aqui amanhã antes da hora de almoço.
A noticia caiu como uma bomba … o silencio foi brutal …
--- Rezemos, irmãos … rezemos …
Por toda a noite se repitram as oracções, sempre presididas pelo pare Inacio … poco a poco, o cansaço foi vencendo um a um … por fim Inácio deu-se conta que estava orando sozinho …
Também ele estava exausto … temia pelo que podria passar a toda aquela gente … olhava o céu escuro …
--- Meu Deus … ajudai estes pobres subitos … São Sebastião … tu que eres o santo padroeiro de todos nós … olha pelo teu povo … salva-nos de um mal que não buscamos nem provocamos …
Como humano que era, Inácio tambem acabou por fechar os olhos e adormecer encostado a uma arvore.
E sonhou … sonhou que São Sebastião o olhava e lhe dizia … “ A vossa fé vos salvará … “
O dia chegou e, pouco a pouco todos foram despertando … não se via um palmo em toda a volta … o dia amanhecera com um espesso nevoeiro …
--- O que nos faltava … e agora como vamos a ver o que pasa?
Uma vez mais o padre Inácio impos a calma …
--- Tranquilos … pode ser que Deus nos manda esta niebla para ajudar-nos.
--- Como nos vai ajudar este nevoeiro de cortar à faca?
--- Tu ves alguma coisa?
--- Pois ... não …
--- Então ninguem nos pode ver a nós … verdade?!!!
Todos pararam … padre Inacio tinha razão … será que seria aquela a ajuda divina por que tanto haviam rezado?
--- São Sebastião nos mandou uma ajuda … mas tambem temos que fazer algo …
--- Que podemos fazer?
--- Silencio … vamos estar aqui todos em silencio para que ninguem nos possa escutar.
Todos compreenderam a ideia … e o silencio imperou em todo o cabeço …
Assim estiveram horas … parecia que o tempo não passava … a meio da tarde escutaram sons …
Eram vozes de mando militares, ruidos de rodas de carros empurrados, supostamente por soldados …
Por veces dava a impressão que estariam a poucos metros de onde se encontravam …
Evitavam até respirar com força para não denunciar a sua presença.
Pouco a pouco o silencio voltou àquelas paragens … no entanto não ousavam falar …
De novo caíu a noite e todos permaneceram calados.
O novo dia trouxe sol … muito sol … mantinha-se a duvida … que fazer?
--- Um voluntário para baixar à vila e ver como estão as coisas?
De imediato se levantou um menino … não teria mais que 14 anos.
--- És muito joven …
--- Por isso posso conseguir-lo melhor que qualquer de vós … e é mais rapido …
--- Bem. Vai com cuidado. Como te chamas?
--- José.
Inácio aproximou-se dele e pos a mão na sua cabeça.
--- Que Deus te acompanhe, meu filho.
José saiu corriendo por entre as arvores.
Demorou umas duas horas, que para todos pareceu uma eternidade … quando regressou vinha cansado … mas feliz …
--- Como está tudo?
--- Muito bem … náo há sinal de franceses, nem espanhois … encontrei a D. Jacinta … ela disse que não viu ninguem no dia de ontem …
Jacinta era a pessoa mais velha da vila … quando subiram ao cabeço sabiam que ela não poderia acompanhar-los.
As noticias trazidas por José tranquilizou a todos.
--- Irmãos … São Sebastião mandou o nevoeiro para ajudar-nos … com ele escondeu a vila de Escalos de Baixo … vamos rezar por agradecimento … proponho que construamos aqui mesmo uma igreja em seu louvor …
Todos pareceram estar de acordo e cairam de joelhos agradecendo ao santo protector.
Esta é uma das lendas que segundo dizem deu origem à capela de São Sebastião e á romaria que todos os anos, no dia da Nossa Senhora da Santissima Trindade , em ESCALOS DE BAIXO.
É curioso que durante o estudo de pesquisa que fiz sobre esta lenda descobrí tres versões com a mesma base.
Uma contava a invasão dos arabes, em que se salvou a vila por uma neblina espessa.
Outra contava a invasão dos espanhois, durante a guerra da independencia … a solução aparecia divinamente pela mesma manera … nevoeiro que ocultava a vila …
Escolhi como base o livro de MITOS E LENDAS DA BEIRA de JOSÉ CARLOS DUARTE MOURA, e aqui encontrei a versão que me pareceu mais verosimil e me serviu de base para esta dramatização.
blog de jorge peres e CARLOS CAMPOS
outros blogues do autor:
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DISERTANDO
CONOCER SEVILLA ... tu calle ... esa desconocida ...
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LA MUSICA EN PORTUGAL
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